Cinco obras apresentam a filmografia de um artista versátil, inventivo e incansável
Publicado em 28/12/2022
Atualizado às 20:14 de 24/04/2023
Julio Calasso fez da vida e da arte uma coisa só. Com uma trajetória que se estendeu do cinema ao teatro, com percursos pela música, foi um importante agente no cenário cultural brasileiro. Cineasta, produtor e ator, foi um militante incansável da cultura e esteve presente em momentos-chave na história da arte brasileira – das encenações do Teatro Oficina ao surgimento do Cinema Marginal em São Paulo, nos anos 1960. Falecido em junho de 2021, Julio trabalhou com cineastas como Rogério Sganzerla, Carlos Ebert, Jairo Ferreira e Denoy de Oliveira, e produziu discos memoráveis de artistas como Moraes Moreira, Itamar Assumpção, Joelho de Porco e Novos Baianos.
Na sua jornada pelo cinema brasileiro, criou uma filmografia pouco conhecida que a Itaú Cultural Play apresenta ao público nesta homenagem. A mostra reúne seu primeiro longa-metragem, Longo caminho da morte (1971), protagonizado por Othon Bastos, e os documentários Electra na Mangueira (2012) e Electra no Municipal (2013), nos quais capta a experiência coletiva da criação teatral, e Plínio Marcos – nas quebradas do mundaréu (2014), documentário que faz um mergulho na poética desse grande dramaturgo, realizado a partir de entrevistas e de riquíssimo acervo de imagens. Além dos filmes dirigidos pelo cineasta, a mostra traz o longa-metragem O baiano fantasma (1984), obra dirigida por Denoy de Oliveira e que conta com atuação de Julio Calasso no papel do investigador Galo.
No canal do Itaú Cultural no YouTube, você pode conferir depoimentos de amigos, parceiros e familiares do cineasta.
Homenagem a Julio Calasso
Longo caminho da morte, de 1971
Orestes é um cafeicultor, dono de uma imensa propriedade rural. Seu negócio, como todo o mundo que o cerca, está em franca decadência. Entre a realidade e o delírio, a razão e a loucura, Orestes nutre sonhos de uma futura bonança financeira enquanto caminha por ruínas e campos desabitados.
Como boa parte da melhor produção brasileira dos anos 1960 e 1970, a qual o crítico Jairo Ferreira definiria como “cinema de invenção”, o filme de Julio Calasso se distancia radicalmente do cinema narrativo clássico, forjando um universo próprio e autoral. O tema da decadência atinge aqui uma dimensão ao mesmo tempo mítica e realista.
O documentário retrata a montagem do espetáculo Electra pelo Cete e pela Mangueira no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 2003. A encenação da peça de Sófocles, adaptada como uma ópera, é um momento simbólico de apropriação do espaço do Municipal pela comunidade do morro.
Uma celebração do encontro e do poder da arte teatral em unir culturas e mundos diversos – neste caso, a tragédia grega e o samba carioca. Mais do que registrar um espetáculo, o documentário mostra o contexto em que as verdadeiras experiências artísticas se fazem. Público, atores, o palco e a história que se narra são parte de uma grande aventura coletiva.